Autor: Andrew Naselli¹
Tradução: Glairton Santiago²
Livros e artigos sobre aspecto verbal no novo testamento tem sido parte da vanguarda da gramática e sintaxe grega por pelo menos vinte anos. A conversa acelerada com as teses publicadas de Stanley E. Porter e Buist M. Fanning, e no início da década de 1990, por D. A. Carson observou, “Daqui em diante, os tratamentos sobre o sistema verbal no Novo Testamento Grego que não interagirem com Porter e Fanning, estarão fora da discussão atualizada”. A literatura crescente sobre o aspecto verbal tem validado a observação de Carson, mas apesar dessa quantidade de literatura, isso tem causado um bom grau de agitação, e bolsas de estudo no Novo Testamento deram tempo surpreendentemente longo para integrar avanços no aspecto verbal com os estudos do Novo Testamento. Como este processo de interação se acelera, muitos pastores sábios e professores irão querer se manter informados sobre o aspecto verbal e seu valor prático com relação à pregação e ao ensino.
Este ensaio introduz brevemente o aspecto verbal no Novo Testamento grego. É uma mera introdução explanatória ao aspecto verbal e não uma defesa dele (embora o autor expresse claramente sua postura a seu favor). Com o risco de ser reducionista, este ensaio tenta resumir um esmagador e complexo debate. Ele se destina a pastores e seminaristas com pelo menos alguns anos de estudo do grego, e assume que o leitor não conhece nada sobre o aspecto verbal.
Reconhece-se que não é uma leitura fácil para aqueles que estão tendo um primeiro contato com alguns conceitos e expressões linguísticas, mas vale a pena o investimento de tempo e energia para compreender questões relacionadas à teoria do aspecto verbal.
O SIGNIFICADO DA TEORIA DO ASPECTO VERBAL
A teoria do aspecto verbal faz distinção entre tempo verbal, semântica e pragmática. Semântica se refere ao significado não contextual, que é o significado de um tempo verbal fora de um contexto específico. Pragmático se refere ao significado contextual, que é seu significado em um contexto específico.
De acordo com a teoria do aspecto verbal, a semântica do tempo verbal indica apenas a interpretação subjetiva do autor ou do narrador de uma ação (aspecto), e por outro lado, pragmático indica o objetivo natural (Aktionsart e tempo) da ação. O aspecto diz respeito a como o autor ou narrador querem que sua audiência vejam uma ação, e Aktionsart diz respeito ao tempo atual ou qualidade de uma ação.
Por exemplo, autores e narradores podem escolher interpretar uma ação com o mesmo verbo tanto no aoristo como no imperfeito. Quando Jesus miraculosamente multiplicou pães para alimentar grande multidão, os sinóticos enfatizam Jesus distribuindo os pães, usando o aoristo para narrar o partir e o imperfeito para a distribuição (ἐδίδου, δίδωμι) Jo 6.11, entretanto, retrata exatamente a mesma ação diferentemente, escolhendo interpretar a distribuição como um todo usando o aoristo (διέδωκεν, do relacionado αδίδωμι). Em outras palavras, uma vez que os sinóticos e João descrevem exatamente a mesma ação (isto é, a distribuição de pães), com diferentes tempos verbais (isto é, imperfeito e aoristo) uma ação não requer certo tempo verbal. Em vez disso, a distinção é baseada em como o autor ou narrador decidem interpretar uma ação.
Linguistas e gramáticos que aderem à teoria do aspecto verbal não são unanimes em todas as nuances (especialmente com referencia aos tempos verbais no futuro, perfeito e mais-que-perfeito), mas a seguinte distinção entre semântica e pragmática é fundamental: aspectos preocupam-se com a semântica e Aktionsart e tempo com a pragmática. Veja a Tabela 1.
Tabela 1. Aspecto: Semântica::
Aktionsart e tempo: pragmática
Aspecto: Semântica |
Aktionsart e tempo: Pragmática |
Aspecto: a interpretação subjetiva do autor ou falante sobre uma ação. |
Aktionsart e tempo: o objetivo natural da ação. |
Semântica: o significado do tempo verbal fora de um contexto específico. |
Pragmática: o significado do tempo verbal em um contexto específico. |
Por exemplo, em Rm 12.1, Paulo roga aos crentes a apresentarem (παραστῆσαι) seus corpos como um sacrifício vivo e santo. A morfologia de παραστῆσαι é aoristo ativo infinitivo; seu tempo verbal é aoristo. A teoria do aspecto verbal faz distinção entre este tempo verbal semântico e o valor pragmático. (1) Semanticamente, o aoristo indica que Paulo esta descrevendo a ação como um todo. Ele poderia ter escolhido, entretanto, descrever a ação diferentemente, usando um tempo verbal diferente (2) o significado pragmático é baseado num complexo de características contextuais. É falacioso, por exemplo, argumentar que por conta de παραστῆσαι estar no aoristo, a ação se refira a uma dedicação de uma vez por todas.
A Tabela 2 tenta clarificar o significado da teoria do aspecto verbal contrastando-o com outras visões familiares.
Tabela 2. Quatro principais visões dos tempos verbais gregos.
Visão |
A semântica do tempo verbal |
Explanação |
1. Tempo |
Tempo absoluto. |
O tempo verbal gramaticaliza (isto é, indica por sua morfologia) um tempo absoluto (aoristo=tempo passado, presente=tempo presente, etc.). |
2. Aktionsart |
O objetivo natural de uma ação. |
O tempo verbal gramaticaliza (1) a qualidade ou tipo de ação (isto é, Aktionsart) em todos os verbos e (2) o tempo absoluto em verbos indicativos e o tempo relativo nos particípios. |
3. Aspecto para além do tempo. |
A interpretação subjetiva de uma ação (para além do tempo). |
O tempo verbal gramaticaliza (1) a forma como o autor ou o narrador interpreta subjetivamente uma ação e (2) o tempo absoluto no modo indicativo e o tempo relativo nos particípios, embora o tempo seja apenas um elemento entre outros como léxico e o contexto em determinado tempo. |
4. Aspecto |
A interpretação subjetiva de uma ação. |
O tempo verbal gramaticaliza apenas a forma como o autor ou o narrador interpretam subjetivamente uma ação. Eles não gramaticalizam nada sobre o objetivo natural da ação no tempo. |
Embora alguns gramáticos definam aspecto e Aktionsart diferentemente, este ensaio usa as definições da Tabela 2, que sublinham a distinção que os linguistas têm mantido no ultimo século, a saber, que Aktionsart vincula o tempo verbal do verbo com seu objetivo natural.
Nos idos de 1800, a primeira visão, tempo absoluto, não era mais a visão da maioria. A segunda, Aktionsart, manteve-se a visão mais ensinada nos seminários e assumida na maioria dos comentários. Eu pessoalmente ensinei alguma combinação da segunda e da terceira visão para os alunos de grego do primeiro e do segundo ano por muitos anos. A Tabela 3 (abaixo) reproduz textualmente uma ajuda fundamental sobre os tempos verbais que eu preparei para os alunos de grego do primeiro ano. É uma combinação das visões dois e três: (1) foca no tipo de ação; (2) explica que “a ação é vista” numa certa maneira, ao invés de reivindicar que o tempo verbal em si mesmo, indica o objetivo natural da ação.
Tabela 3. Aktionsart/ Aspecto para além do tempo no Indicativo.
Tempo = Momento + Tipo (Tempo indica tempo de ação apenas no modo indicativo)
Tempo |
momento |
Tipo |
Diagrama |
Explicação |
Exemplo |
Presente |
Presente |
Linear, progressivo, continuo. |
|
A ação é vista como em progresso. |
Eu estou estudando. |
Imperfeito |
Passado |
Eu estava estudando. |
Futuro |
Futuro |
Simples, indefinido |
|
A ação é vista como um todo. ( isso não denota necessariamente ação pontual no tempo) |
Eu estudarei. |
Aoristo |
Passado |
Eu estudei. |
Perfeito |
Passado |
Completo |
|
A ação é vista como completada mas tendo resultados contínuos. |
Eu tenho estudado. |
Mais-que- perfeito |
Passado |
Eu tinha estudado. |
Contraste a Tabela 3 com a Tabela 4 (abaixo), que representa a quarta visão com a terminologia de Stanley E. Potter.
Tabela 4. Aspectos
Tempo Verbal |
Aspecto Gramatical |
Explicação: O autor ou falante vê a ação como… |
Aoristo |
Perfectivo |
Completo (não necessariamente completada), como um todo. |
Presente/ imperfeito |
Imperfectivo |
Em processo, contínuo |
Perfeito / Mais que perfeito |
Estativo |
Um estado de assuntos ou condições |
Neste ponto neste ensaio, a definição do aspecto de Potter pode ser mais compreensível. Potter oferece “uma concisa definição do aspecto verbal que está ligado com terminologia linguística:
Aspecto verbal grego é uma categoria semântica sintética (realizada in forma de verbos) usada em uma rede de sistema de tempos para gramaticalizar a fundamentada escolha subjetiva de concepção do autor em um processo.
Em outras palavras Potter oferece mais amigáveis definições que explica sua terminologia linguística.
Em grego, verbal aspecto é definido como uma categoria semântica (significado) pela qual o autor ou escritor gramaticaliza (i. e. representa um significado pela escolha de uma palavra-forma) uma perspectiva em uma ação pela seleção de uma forma de tempo particular no sistema verbal. As características semânticas (os “significados”) de diferentes aspectos verbais são atribuídas às formas de tempo. Os aspectos verbais são, portanto, baseados morfologicamente (i. e. forma e função são correspondidos). Verbal aspecto é uma característica semântica que atribui diretamente ao uso de um dado tempo verbal em grego. Outros valores – como o tempo – são estabelecidos a nível de unidades conceituais ou gramaticais maiores, como o tempo, parágrafo, preposição, ou até mesmo o discurso. A escolha do aspecto verbal particular (expresso na forma do tempo) reside com o usuário da língua, e é a partir desta perspectiva que a interpretação gramatical do verbo deve começar.
Potter em outro lugar explica que a teoria do aspecto “ afirma que as formas dos tempos verbais são selecionadas pelos usuários da língua não baseados na ação em si, mas baseados em como eles desejam conceber e conceituar uma ação”.
OBJEÇÕES A TEORIA DO ASPECTO VERBAL
Aderentes às visões dois e três na Tabela 2 tem pelo menos três objeções mais importantes à visão quatro (aspecto).
- Se a semântica do tempo verbal não gramaticaliza tempo, então o que determina o tempo? Resposta dos aderentes à visão quatro: fatores pragmáticos determinam tempo. Estes incluem léxicos (uma gama semântica básica da palavra ou significado do dicionário), contexto, e especialmente deixis (indicadores temporais como advérbios de tempo ou o fluxo da narrativa). Indicadores deíticos são uma das maiores formas que o Grego indica tempo.
- Tanto a formas de tempo presente e imperfeito gramaticalizam o aspecto imperfectivo, e tanto os tempos perfeito e o mais que perfeito gramaticalizam o aspecto estático. Qual, então, é a diferença entre cada par (presente/imperfeito e perfeito/mais-que-perfeito)? Resposta dos aderentes à visão quatro: a distinção fundamental é afastamento, que frequentemente envolve afastamento no tempo, espaço ou ênfase (e.g., plano de fundo e primeiro plano no discurso).
- A semântica da forma de tempo futuro não gramaticaliza o tempo futuro? A resposta dos aderentes da visão quatro não é unânime, embora eles concordem que a forma de tempo futuro é anômala. Potter argumenta que a forma de tempo futura gramaticaliza expectativa, que e geralmente futuro-referente. Fanning e Campbell argumentam que a forma de tempo futura é uma exceção e que é propriamente um tempo que gramaticaliza o tempo futuro. Kenneth L. Mckey, que não se enquadra na visão quatro, argumenta que a forma de tempo futura expressa intensão e consequentemente simples futuridade.
A SIGNIFICÂNCIA EXEGÉTICA DA TEORIA DO ASPECTO VERBAL
Considerar a teoria do aspecto verbal leva a uma legitima questão prática: então o que? Ou pondo com mais sofisticação: qual o significado exegético isso tem? Esta é uma questão importante porque o desejo por apurada exegese é frequentemente o que inicia e alimenta discussões como esta.
Abraçando a teoria do aspecto mais do que a Aktionsart (veja dois na Tabela 2) não muda drasticamente as traduções, exegese ou doutrina. Sua significância primaria é que ela muda como alguém expressa (e talvez mais importantemente, como alguém não expressa) um argumento exegético com referência a forma do tempo verbal. É invalido argumentar uma certa forma de tempo necessita um significado pragmático particular.
Por exemplo, a teoria do aspecto verbal implica que é ilegítimo argumentar nestes termos: “Este tempo aoristo em particular (semântica) significa que esta ação foi instantânea ou decisiva (pragmática). ”
Isto confunde a semântica com pragmática e da vazão para muitos significados ao tempo aoristo. Enquanto permanecer alcançando muitas das mesmas distinções como Aktionsart (e.g. uma ação interativa ou ingressiva), a teoria do aspecto adiciona uma perspectiva à exegese dos verbos gregos que é mais matizada, sutil, consistente, e genuinamente explanatória.
Decker explica e ilustra:
A rede de fatores semânticos compreendida por aspecto, léxico, e Aktionsart, juntamente com outros fatores gramaticais e contextuais. (adjuntos, deixis, etc) é referido neste volume como o complexo verbal. Assim, uma afirmação que “o significado do complexo verbal de x…” deve ser entendido como inclusivo, declaração pragmática (geralmente empregado no nível de clausula) Resumindo o valor semântico total do verbo e seus adjuntos em um contexto particular, incluindo aspecto, léxico, Aktionsart, e fatores contextuais.
As categorias frequentemente usadas em gramaticas tradicionais (tais como tendencial, gnômico ou interativa) não são apropriadas para qualquer aspecto ou Aktionsart definidos no sentido acima definido. Por exemplo, usando as definições acima não seria correto dizer que διηκόνει(Mark 1:31) é um imperfeito interativo. Poderia, contudo, ser dito que neste contexto a combinação do aspecto imperfectivo com o léxico de διακονέω (que tem um caráter Aktionsart de atividade) e os fatores contextuais ( a mulher tinha estado acamada) juntos descrevem uma situação interativa. É necessário, na maioria dos casos decifrar estes detalhes; uma referencia abreviada é adequada: a frase καὶ διηκόνει αὐτοῖς descreve uma atividade interativa.
…Esses termos (como interativo) são relevantes como descrições do complexo verbal, mas não de verbos específicos ou formas especificas de verbos. Esta abordagem… busca equilibrar as contribuições formais e contextuais, forma e função, semântica e pragmática.”
UMA ESTRATÉGIA SUGERIDA PARA ESTUDAR A TEORIA DO ASPECTO VERBAL
O corpus de trabalhos sobre a teoria do aspecto verbal no NT Grego é inicialmente assustador para aqueles com pequena exposição a ele, mesmo que tenham completado pelo menos dois ou três anos de estudo formal de Grego. É assustador por causa de sua larga quantidade e qualidade técnica. Este permanece o caso mesmo se os pesquisadores se limitarem a apenas os mais significativos trabalhos. Como a teoria do aspecto verbal flui diretamente para fora da linguística moderna, trabalhos em linguística são também significantes para a compreender a teoria do aspecto verbal. Uma estratégia útil para o estudo da teoria do aspecto verbal é ler uma seleção de trabalhos chaves, iniciando com os mais leves, mais elementares leituras e progredindo para os mais pesados, mais avançados. Eu sugeriria a leitura dos seguintes trabalhos (que não concordam completamente uns com os outros) nesta ordem:
- Porter, “Greek Grammar and Syntax,” pp. 89–92.
- Carson, Exegetical Fallacies, pp. 65–78, 84–85.
- Long, “Tense and Aspect,” pp. 60–77.
- Picirilli, “Meaning of the Tenses,” pp. 533–55.
- McKay, New Syntax, pp. 35–38.
- Young, Intermediate New Testament Greek, pp. 105–31.
- Porter, Idioms, pp. 20–61.
- Wallace, Greek Grammar, pp. 494–586.
- Decker, Temporal Deixis, pp. 1–59, 157–98.
- Porter and Carson, eds., Biblical Greek Language and Linguistics, pp. 18–82.
- Fanning, Verbal Aspect.
- Campbell, Verbal Aspect.
- Decker, “The Poor Man’s Porter,” Oct. 1994, available at
http://www.ntresources.com/documents/porter.pdf.
- Porter, Verbal Aspect.
Eu cometi o erro de ler Verbal Aspect de Potter primeiro, e gostaria fortemente de desencorajar os recém-chegados a fazer isso. Não tendo um solido plano de fundo em linguística, Grego clássico, ou teoria do aspecto verbal, eu descobri que era uma monografia Grega excepcionalmente desafiadora e técnica.
Um trabalho adicional para acrescentar perto do topo da lista acima é o longo apêndice de D. A. Carson em seu próximo The Epistole of John, que promete ser o primeiro comentário que incorpora completamente a teoria do aspecto verbal. O longo apêndice de Carson em teoria do aspecto verbal vai estar atual com os desenvolvimentos dos estudos no aspecto verbal e pode provar ser a explicação disponível mais acessível.
CONCLUSÃO
Muitos estudos contemporâneos do NT refletem um das três visões do verbo Grego: Aktionsart, aspecto mais tempo, ou aspecto. Aktionsart se refere ao objetivo natural em uma ação, e aspecto se refere ao que o autor ou falante interpreta subjetivamente em uma ação. The anterior preocupa-se com a pragmática e o ultimo com a semântica. O resultado líquido da aplicação da teoria do aspecto verbal não é radicalmente diferentes interpretações. Em vez disso, defensores da teoria do aspecto argumentam, melhora a exegese com o aumento das nuances e a anulação de erros linguísticos comuns.
A questão com a qual os intérpretes do NT devem lutar é: que visão na natureza inteira do sistema verbal Grego tem o melhor poder de explicação? Um crescente número de linguistas e gramáticos do NT Grego estão convencidos que a resposta é a teoria do aspecto verbal.
¹ Andrew Naselli é PhD em Teologia e Exegese do Novo Testamento pelo Trinity Evangelical Divinity School (2010); PhD em Teologia pelo Bob Jones University (2006); MA em Bíblia pelo Bob Jones University (2003); atualmente é professor assistente de Novo Testamento e Teologia Bíblica no Bethlehem College & Seminary e também é membro da Bethlehem Baptist Church; Ele é adiministrador do Themelios; Trabalhou como pesquisador para D.A Carson (2006-2014).
² Glairton Santiago é bacharelando em Teologia na Escola Teológica Charles Spurgeon.